A maior dor do meu ventre saiu.
Não é o que me dói.
É a dor de teus olhos que me trespassa.
E eu impotente morro sem poder fazer nada.
Não posso.
Não posso matar quem amas.
Não posso apagar essa dor.
Não posso dar-te outros olhos.
Mas posso dar-te outro olhar.
E posso tentar mudar.
E depois...
Veres a beleza da vida.
Veres a beleza em ti.
Veres que não vale a pena chorar.
Chorar por quem nunca te amou...
A porta atrás de mim.
A seu lado uma janela aberta.
Entrou uma névoa triste.
Tento escapar pelas paredes.
Vou sufocar. Eu vou sufocar.
E a névoa sou eu...
Podia fugir por onde entrei.
Nada me impede. Ninguém me impede.
Só o medo. Lá fora não sou ninguém.
Lá fora não está ninguém.
Vou matar. Eu vou matar.
Mas a névoa sou eu...
Matei. Matei a realidade de quem sou.
Fugi de mim e agora não sei voltar.
E a porta no trinco.
E a seu lado a janela aberta.
E eu trepo por paredes surdas
Porque não sou capaz de voltar.
Porque tenho medo do que vou encontrar.
E esta névoa que me persegue.
Que se entranha em mim
Se cola à minha pele e me impede de mexer.
Névoa que sou eu...