Não é morrer que me assusta.
É a dor de ter que viver neste entretanto.
Assusta-me deixar de te ver.
Nunca te ter pedido perdão.
Assusta-me que neste entretanto ainda não o consigo fazer.
Assusta-me não ter medo de morrer.
Mas ainda não ter acabado de dizer a todos vós o quanto vos amo.
Assustam-me todas as palavras mal dadas.
Todas as guerras criadas.
Todas as pessoas não devidamente olhadas.
Assusta-me o tempo que passa tão depressa.
Tudo o que gostava de ter feito e não fiz.
Tudo o que fiz e não devia ter feito.
Assusta-me nunca te ter ouvido.
Nunca te ter respondido.
Assusta-me ter-te magoado.
Assusta-me nunca te ter amado...
"Vitríolo" é a vontade que tem de se viver perante a morte.
Mesmo quando passámos a vida a tentar morrer.
"Vitríolo" é o veneno que se chama VIDA.
E gritava. Berrava.
E fugia. Corria.
E chamava. Teu nome. Meu nome.
E sentia o que sentias.
Não era a minha voz.
Não eram as minhas pernas.
Mas o teu coração é o meu.
Pedaço de mim que dói.
Que se separa e me rasga.
E nada posso fazer.
Nada consigo fazer.
Mas a tua carne é a minha.
E perdido ías.
Não sabias onde, mas ías.
Sem pensar em mim mas me chamando.
E meu nome? E teu nome?
Mas a tua mente é a minha.
E sentimos igual.
E gritamos silenciados.
Cruzamos olhares perdidos.
Tu pertences-me e eu a ti.
Não somos um do do outro. Somos feitos um do outro. Um para o outro.
Minha vida é tua.
Porque sem ti não existo.
E de cada vez que não te apetecer existir.
Lembra-te que por ti estou viva.
Lembra-te que um dia viverás por alguém também.
E que esse alguém não serás tu.
Porque nossa alma não existe mas o nosso corpo pelos outros vive...
Os outros. Pedaços que de nós rasgaram quando os parimos.
Nojo dos teus beijos e do teu cheiro.
Nojo do teu toque e do teu corpo.
Não sei como aconteceu.
Mas cada gesto teu se tornou em ...nojo.
Entendo agora palavras que um dia ouvi.
Entendo agora que não sou eu ou tu.
Quando o sentimento nos abandona ou apenas não cresceu.
Quando não é amar nem odiar...torna-se nojo.
Queremos apagar esta palavra da nossa mente.
Queremos tentar não magoar e fugir.
Mas estamos presos.
E quando aqui chegamos...percebemos...
Se não amamos nem odiamos...porque estamos presos...
O que sentimos, sem culpa de ninguém...é nojo.
Saborear cada cor a preto e branco.
Sei como são mas vejo-as como quero.
Priveligiada de sentidos sou.
O tactear cego daquilo que não quero ver.
Nas pontas dos dedos encontro o frio e o calor do paladar.
No ouvir sinto o sabor das árvores.
Na boca vejo o cheiro da liberdade dos pássaros.
Privilegiada sou de cada vez que um colibri poisa numa flor.
Fico feita preguiça aguardando.
E de seguida me sussura o prazer que lhe queima as penas.
Quantos sentidos se lhe despertam nesse gesto.
De cada vez que fecho meus olhos.
De cada vez que gemo ao vento.
Todas as vezes sou livre.
Todas as vezes liberto os que comigo sentem.
Por mais que tente.
Por muito que corra.
Por tanto perdoar.
Por tão bem querer...
Estou tão cansada.
Não consigo mais.
Dói-me demais passar daqui.
Travo a fundo.
Através da tua mão.
Choro e grito e berro.
Mas a voz já não tem som.
Não só dói como já não dá mais.
Não vou passar daqui.
E martirizo-me por ti.
E deixo-me para trás.
E amo-vos mais que à minha própria vida.
Porque nunca me amei.
Porque nunca voltei.
Há palavras que devia ter dito.
Há perguntas que não respondi.
Há vinganças que não tomei.
Há raiva que escondi.
Quem sou eu?